sexta-feira, 19 de junho de 2015

Morre o designer da VW Brasil, criador da SP-2 e Brasília entre outros, Sr. MÁRCIO PIANCASTELLI

Morreu na tarde dessa quinta-feira (18/6), aos 79 anos, o designer automotivo Márcio Piancastelli, autor das linhas do SP-1 2 e da Brasília, entre outros carros de sucesso da Volkswagen. Piancastelli também fez o primeiro desenho do Gol (abaixo), projetado em 1978 e recusado pela matriz na Alemanha, que queria um carro baseado nos traços do Scirocco.


A HISTÓRIA
Márcio Lima Piancastelli nasceu em Belo Horizonte (MG) em 1936. Em 1962, ao 26 anos, criou o cupê Itapuan para participar do Concurso de design, o Prêmio Lucio Meira, onde os jurados eram nada menos do que Giuseppe Farina, Luigi Segre, Mario Fissore e Brooks Stevens. Ficou em segundo lugar ganhando uma bolsa de estudos para passar mais de um ano no ateliê Ghia em Turim. Largou tudo e desistiu de prestar vestibular para aquitetura. Durante seu estágio em Turim, criou o Piant GT 1963, abaixo:


Quando voltou ao Brasil, foi contratado pela Willys-Overland do Brasil, que desenvolvia o "Projeto M", coordenado por José Maria Ramis Melquizo, Roberto Araújo e Valter Brito. Era um sedã médio baseado na inédita plataforma da Renault que daria origem ao Renault 12 na França. Piancastelli participou também da equipe que executou a reestilização total do Aero Willys, baseado em um vetuso modelo norte-americano de 1952.

Em 1967,  a Willys foi comprada pela Ford, e o "Projeto M" acabou por se tornar um dos carros de maior êxito na história do Brasil: o Corcel. Porém, Piancastelli preferiu tomar o rumo da Volkswagen.

Infelizmente, na VW as coisas eram diferentes, e não havia muito o que fazer já que Friedrich Schultz-Wenk (presidente da VW do Brasil entre 1953 e 1969) sempre buscava tudo pronto de fora. Com a morte de Schultz-Wenk, assumiu o cargo Rudolf Leiding, um alemão aberto a inovações. Começaria aí a fase de ouro de Piancastelli no design brasileiro. 
O serviço começou com mudanças radicais no projeto original do TL alemão. Ao lado do colega Jota (José Vicente Novita Martins), Piancastelli modificou a traseira de uma Variant e criou formas adotadas apenas no Brasil.
Mas a cultura de importar desenhos ainda prevalecia entre as grandes fabricantes de automóveis e prejudicava o trabalho dos designers brasileiros. Quando Piancastelli quis fazer um substituto para o clássico Karmann-Ghia, a Volkswagen trouxe da Europa o projeto do TC - carro que nunca conseguiu fazer frente ao brasileiríssimo Puma (obra de Rino Malzoni).
Inconformado, Piancastelli começou a trabalhar em um cupê mais arrojado: o SP. Era um carro baixo, com grande área envidraçada e traços muito modernos para a época. A ideia recebeu carta branca de Rudolf Leiding, presidente da VW do Brasil, e foi adiante. Lançado em 1972, o modelo tinha lá seus problemas. Foi apresentado em duas versões: SP-1 (com motor 1.600) e SP-2 (com motor 1.700). A primeira era muito lenta e morreu no nascimento, mas disso Piancastelli não tinha culpa, já que cuidava apenas do design. Outro ponto contra era o calor que fazia na cabine, dado que o para-brisa era muito inclinado. Este VW, o SP-2 chegou a ser chamado de "o Volkswagen mais bonito do mundo".


Nessa época, os departamentos de design das filiais de montadoras eram muito restritos e escondidos. Criações novas eram feitas à sete chaves das matrizes, que permitiam no máximo retoques no desenho.
Com a venda da Vemag para a Volkswagen em 1967, Piancastelli foi para a VW e ali criou seus carros mais famosos juntamente com seu colaborador, José Vicente Martins, o Jota.
Na VW recebe do então presidente, Rudolf Leiding, a tarefa de adaptar um modelo já existente na Alemanha para os padrões brasileiros. Mas a mente criativa de Piancastelli inova, e ao invés de fazer apenas uma perfumaria no 1600 notback alemão, cria, a partir de uma Variant cortada, um fastback de linhas muito mais harmoniosas que o original.  Nasce o 1600 TL. Leiding ficou tão empolgado com o novo carro que sacou seu próprio talão de cheque e deu uma gratificação a equipe de Piancastelli.

TC era muito bonito, mas ainda não satisfazia a VW, assim Piancastelli e equipe começam a trabalhar dois projetos em paralelo. Em 1972 nascia um esportivo capaz de bater o Puma em duas versões de motorização, uma com motor 1600 chamada de SP-1 em homenagem ao estado de São Paulo. O projeto apesar de belo, não vingou devido ao baixo desempenho, e logo foi lançada outra versão com motor 1700 com carburação dupla, batizada de SP-2, que logo depois sucumbiria também pelo mesmo motivo anterior, perdendo o posto para o Passat. 

O carro é até hoje considerado um dos mais belos VW de todos os tempos. Atualmente, é o único modelo não criado pela equipe de designers da Alemanha a estar no museu da marca na sede em Wolfsburg.

Para fazer o desafio do carro médio e espaçoso com mecânica a ar do VW 1600, Piancastelli fez 40 esboços. Pensou na plataforma do Fusca, mas essa era demasiadamente curta. A solução foi usar a da VariantNascia então o grande sucesso: a VW Brasilia. que chegou às concessionárias em 1973. A proposta de Leiding era criar um carro mais espaçoso, iluminado e arejado com a mecânica dos VW a ar, dominante na Volkswagen do Brasil.
Piancastelli, criou uma carroceria de linhas retas, num conceito de carro pequeno por fora e grande por dentro que vinha do inglês Mini.

A Brasilia teve 950 mil unidades vendidas no Brasil e 180 mil no exterior. Quando viajava com a família para Belo Horizonte, Piancastelli percebeu o quanto o motor traseiro, praticamente dentro da cabine, era ruidoso. Chegou a desenhar uma Brasilia II com motor dianteiro mas, a essa época, a Volks já tinha outros planos.
Até onde os alemães permitiram, Piancastelli contribuiu também para o projeto automobilístico de maior êxito no Brasil: a criação da família BX, formada por Gol, Parati, Voyage e Saveiro. Piancastelli deixou a Volkswagen e as atividades automobilísticas em 1992, deixando sua colaboração nos projetos do novo Santana (1991), do Logus, do Pointer e do Gol "Bolinha". Abaixo, o mural em sua casa com seus desenhos: 


Piancastelli passou então, a desenhar eletrodomésticos. Em seus últimos anos de vida, o genial criador teve seu trabalho reconhecido. Participava de reuniões de colecionadores e atendia a pedidos para autografar carrocerias dos automóveis de sua lavra. Na Alemanha, o SP-2 passou a ter lugar de destaque nos dois museus da Volkswagen.

Piancastelli morreu na tarde de ontem (18/6/2015), após anos de luta contra grave enfermidade.

Obrigado Piancastelli, pelas jóias deixadas e descanse em paz .

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